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SOMETHING YOU SHOULD KNOW ABOUT REALITY

 

Título: Something you Should Know About Reality

Autor: Luís Ribeiro

Curadoria: Amélia Gomes Alves

Ano: 2010

Local: Galeria Gomes Alves 2, Guimarães

NEW ROMAN TIMES
Gravação em placa de alumínio, 21x31,5X0,1cm

Homenagem ao artista desconhecido
Quatro fotografias digitais, impressão lambda sobre papel fotográfico colado em k-mount 5mm, 126x188cm

Something we should know about reality
Acrílico e grafite sobre papel, 50x70cm

Olhando, tudo parece real
Fotografias digitais alteradas no Adobe Photoshop na ferramenta Balanço de Cores até atingir a cor pura.
Impressão a jacto de tinta sobre papel fotográfico colado em k-mount, 5mm, 20x20cm

 

Sobre a exposição

O passado

O papel da História para a definição espacial e territorial


No livro “A Sociedade Transparente” encontramos a referência a um breve escrito de 1938 de Walter Benjamin Tetsi sulla filosofia della storia, onde este afirmou que a História como curso unitário é uma representação do passado construída pelos grupos e pelas classes sociais dominantes. De facto, o que se transmite do passado? Nem tudo o que aconteceu, mas apenas aquilo que parece relevante. Por exemplo:
«Na escola estudamos muitas datas de batalhas, tratados de paz, revoluções, mas nunca nos narraram as transformações do modo de nutrição, do modo de viver a sexualidade, ou coisas semelhantes». Vattimo, 1992, pp. 9
Seguindo esta perspectiva, o que nós conhecemos da História foi-nos transmitido pelos nobres, pelos soberanos, ou pela burguesia quando se torna classe de poder. Mas outros aspectos de vida como os pobres, os considerados baixos, não fazem História. Assim, chega-se facilmente à dissolução da ideia de história como curso unitário; não há uma história única, «há imagens do passado propostas por pontos de vista supremo,
global, capaz de unificar todos os outros» (Vattimo, 1992, pp. 9). Nesta medida, a exposição Something We Should Know About Reality pretende
funcionar, como o próprio título indica, como manobra de alerta sobre a informação que nos é fornecida ao longo da historio e, acima de tudo, sobre os vários mecanismos de manipulação da verdade. A impossibilidade de transcrever toda a realidade é uma utopia presente ao longo da história: somos constantemente obrigados a seleccionar momentos que queremos eternizar. Actualmente, devido aos novos meios tecnológicos,
a um mais amplo acesso à educação, aos mass media, etc., a maneira como se escreve a história é, de alguma forma, mais democrática. A velocidade real é muito mais rápida do que é verdadeiramente. Ou seja, é com esta democratização que o nosso espaço individual aumenta, que passa a ter uma escala global; por exemplo, no momento em que estamos almoçar estamos a assistir a diversos directos transmitidos
pelo noticiário, imagens de arquivo, imagens de várias cidades e de vários países, assaltos, guerras, desporto, cultura, tudo em cinquenta minutos. Qualquer cidadão pode criar um blog ou um site na Internet e escrever sobre as suas preocupações, a sua História. As máquinas fotográficas e de vídeo digitais possibilitam uma massificação da imagem, do registo, aumentando em larga escala o arquivo histórico da realidade actual.
A peça “New Roman Times” é uma simples manipulação da fonte Times New Roman que, por definição, é a fonte standard de qualquer computador que utilize o programa Word criado pela Microsoft. Não deixa, à luz desta reflexão, de ser uma manipulação criada pela própria empresa de software que exerce uma certa carga de imperialismo sobre a sociedade em geral. Por outro lado, a peça “Olhando, tudo parece real”, fornece-nos uma ideia de limitação gerada pelo programa Adobe Photoshop, que é talvez o programa de manipulação de imagens mais conhecido e usado em todo o mundo. No entanto esta peça pretende demonstrar o próprio limite existente na ferramenta que, como é demonstrado nas 30 fotografias, alterando as propriedades do balanço de cores o limite instituído é que à décima imagem a fotografia atinja a cor pura “verde, azul ou vermelho”. Aqui demonstra-se de forma fácil e rápida os próprios limites das ferramentas de manipulação. O mesmo acontece na peço “Homenagem ao artista desconhecido”. Como o título indica, pretende ser uma homenagem aos artistas que nunca chegam a atingir o patamar de divulgação e conhecimento geral da população; limitam-se a criar para si e para um leque reduzido de pessoas ficando a selecção de quem é um “bom ou mau artista” para o crítico, galerista, curador ou coleccionador. Os próprios critérios de selecção variam consoante gostos, estilos, épocas ou influências. São, sobre esta perspectiva, critérios reduzidos que, muitas das vezes, acabam por destruir muitos artistas. Por último, a peça que dá nome à exposição “Something We Should Know About Reality” pretende transmitir a censura a um texto importante sobre a realidade, deixando apenas uma palavra em cada página: “Something” “We” “Should” “Know” “About” “Reality” – algo que deveríamos saber sobre a realidade. Mais uma vez está presenta a ideia da fácil manipulação e da fácil condução a uma realidade que
poderá nunca corresponder à verdade. A ocultação de determinados factos históricos é um dos maiores mecanismos de protecção que o Homem já criou. Cada um de nós, na nossa intimidade, oculta pormenores que, na razão da nossa existência, podem ser tão ou mais importantes
como vários dos registos que tornamos públicos. O importante é que consigamos manter o nosso espaço intacto. Qual será a dimensão real do nosso espaço? Talvez do tamanho da nossa consciência.

Luís Ribeiro 

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